Sem dúvida, este vem sendo o assunto relacionado à
nutrição mais discutido na atualidade e questionado pela população, além do
aumento significativo na procura deste produto em lojas de produtos naturais e
integrais. Em pesquisa a um site de busca, com a palavra óleo de coco, são
apresentados 3.120.000 sites que discutem alguma informação a respeito, sendo
muitos deles, empresas que comercializam o óleo de coco in natura ou em cápsulas. E aí vem a grande questão: será que o óleo
de coco realmente é um alimento interessante para que seja adicionado na dieta
da população brasileira? Esta é uma dúvida inclusive de muitos nutricionistas,
que ainda não possuem uma opinião formada sobre este alimento. É isso que vamos
discutir aqui nesta postagem, colocando as opiniões científicas em relação ao
óleo de coco, para que você possa retirar suas próprias conclusões.
Para fins didáticos, esta postagem será dividida em
três módulos, uma vez que são inúmeros os estudos que trazem alegações ao óleo
de coco. Sendo assim, será discutida a influência do consumo de óleo de coco
sobre doenças cardiovasculares, a perda de peso e ao diabetes. Nesta postagem
será abordado o primeiro módulo.
MÓDULO 1: ÓLEO DE COCO X DOENÇAS CARDIOVASCULARES
O óleo de coco
ou gordura de coco é definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) como o óleo comestível obtido do fruto de Cocos nucifera (coco) através de processos
tecnológicos adequados, sendo classificado em óleo ou gordura de coco ou óleo
ou gordura de coco bruto (BRASIL, 1999). A diferenciação dos dois produtos está
nos processos utilizados para sua extração, sendo no primeiro necessários
processos de extração e refino e no segundo somente processos de extração
(BRASIL, 1999), que caracterizam um óleo de coco extra virgem.
A composição em
ácidos graxos do óleo de coco de acordo com a Resolução nº 482 de 23 de
setembro de 1999 (BRASIL, 1999) vem destacada a seguir.
Quadro 1 – Composição em ácidos graxos do óleo de coco (g/100g).
Ácido graxo
|
Nomenclatura
|
g/100g
|
C 6:0
|
capróico
|
0,4 – 0,6
|
C 8:0
|
caprílico
|
5,0 – 10,0
|
C 10:0
|
cáprico
|
4,5 – 8,0
|
C 12:0
|
láurico
|
43,0 - 51,0
|
C 14:0
|
mirístico
|
16,0 - 21,0
|
C 16:0
|
palmítico
|
7,5 – 10,0
|
C 18:0
|
esteárico
|
2,0 – 4,0
|
C 18:1
|
oléico
|
5,0 – 10,0
|
C 18:2
|
linoléico
|
1,0 – 2,5
|
C 18:3 - C 24:1
|
-
|
< 0,5
|
Fonte:
BRASIL (1999)
De acordo com Feranil et al. (2011) estudos frequentes
têm evidenciado modestos benefícios no consumo de óleo de coco no perfil
lipídico (SUNDRAM; HAYES; SIRU, 1994). Tal revelação possui influência da
composição em ácidos graxos do óleo de coco, uma vez que este possui principalmente
ácidos graxos de cadeia média, que são rapidamente metabolizados pelo fígado em
energia, não participando da biosíntese e transporte do colesterol (DAYRIT,
2003). Os principais ácidos graxos que compõem o óleo de coco são ácidos graxos
láurico, caprílico, cáprico, mirístico e palmítico.
Por
conta desta composição e pela pequena influência sobre o colesterol total e
LDL-c, o óleo de coco surge como uma alternativa às gorduras vegetais
hidrogenadas, que evidentemente são prejudiciais à saúde conforme inúmeras constatações
científicas.
Lemiex
et al. (2011) compararam os efeitos de diferentes óleos (óleo de coco, azeite
de oliva e óleo de peixe), ricos em ácidos graxos saturados, monoinsaturados e
polinsaturados, respectivamente, sobre as concentrações de lipídeos peroxidados
e proteínas oxidadas em mitocôndria no coração de ratos. Os animais foram
alimentados com tais dietas por 16 semanas e os resultados demonstraram que o
óleo de coco apresentou as menores concentrações de proteínas oxidadas e
lipídeos peroxidados, ao passo que o óleo de peixe levou ao maior estresse
oxidativo na mitocôndria cardíaca. O LDL colesterol e colesterol total
diminuíram no plasma de ratos alimentados com óleo de peixe, quando comparados
ao azeite de oliva e óleo de coco.
Um
estudo desenvolvido por Mueller et al. (2003) com mulheres estudantes da
Universidade de Akershus, propuseram a avaliação de dietas controladas com
diferentes níveis e qualidade de lipídeos e sua influência sobre os níveis
sanguíneos de Lipoproteína a (LPa), fator VII (atividade coagulante) e
fibrinogênio. Participaram do estudo 25 voluntárias, que foram divididas em
três grupos:
- Dieta
HSAFA: 38 % de lipídeos, recebendo margarina rica em ácidos graxos saturados,
contendo 80 % de óleo de coco, 10% de óleo de soja e 10 % de óleo de linhaça.
- Dieta
LSAFA: com baixo teor de lipídeos (19%), recebendo a margarina rica em ácidos
graxos saturados apresentada na dieta HSAFA.
- Dieta
HUFA: 39 % de lipídeos, recebendo margarina com alto teor de ácidos graxos insaturados:
mono e polinsaturados.
Como
resultados, os autores identificaram que as diferentes dietas não influenciaram
nas concentrações de fibrinogênio, assim como nos níveis de fator VII,
entretanto, os indivíduos que consumiram a dieta com maior teor de gordura
saturada (HSAFA), baseada no óleo de coco, apresentaram menores concentrações
de LP(a). Recentes estudos confirmam que elevadas concentrações de LP(a) podem
ser caracterizadas como um fator de risco moderado, mas consistente, para
doenças cardiovasculares, apesar de seu mecanismo ainda não estar bem definido
pela comunidade científica (DUBÉ et al., 2012).
Segundo
Voon et al. (2011) sabe-se que o tipo de gordura modula o perfil lipídico
plasmático, mas seu efeito sobre os marcadores inflamatórios e homocisteína são
pouco claros. Sendo assim, desenvolveram um estudo com 45 indivíduos saudáveis
da Malásia, que passaram por um período experimental com uma sequência de três
dietas por cinco semanas cada. As dietas possuíam diferentes tipos de óleos: primeira
dieta com óleo de palma rico em ácido graxo palmítico (16:0), dieta rica em ácido
graxo láurico e mirístico (12:0 + 14:0) presente no óleo de coco e dieta rica
em ácido graxo oléico representado pelo azeite de oliva extra virgem. Os óleos foram
inseridos nas dietas testes atendendo 30% das necessidades energéticas.
Como
resultados não foram constatadas diferenças significativas no efeito das três
dietas com os referidos óleos sobre os marcadores inflamatórios (TNF- α, IL-1β, IL-6, IL-8, PCR ultra sensível e interferon-γ), assim
como para a homocisteína total. As dietas com óleo de palma e azeite de oliva
tiveram efeitos não hipercolesterolêmicos. Os níveis de colesterol sanguíneos
pós prandial foram significativamente menores nas dietas com azeite de oliva quando
comparados à dieta com óleo de coco. A dieta com óleo de coco apresentou os
menores níveis de lipoproteína a (LP(a)), discutida anteriormente.
Apesar
do crescente número de pesquisas científicas a respeito do óleo de coco, a
maioria dos trabalhos é desenvolvida ainda com uma amostra (população em
estudo) reduzida, sendo por isso questionada por muitos estudiosos sobre sua
eficácia. De fato, vários estudos apresentaram a pequena ou não influência do
consumo de óleo de coco sobre os níveis de colesterol sanguíneo, principalmente
por sua composição em ácidos graxos e metabolização. Diferentemente dos ácidos
graxos de cadeia longa, os ácidos graxos de cadeia média possuem metabolização
mais rápida pelo fígado, não havendo seu acúmulo como gordura corporal, uma vez
que estes são metabolizados para produção de energia. Ressaltamos, entretanto,
que o consumo deste produto deve ser orientado por nutricionista, profissional este
responsável pela indicação da quantidade ideal para cada indivíduo e pela orientação
sobre a qualidade necessária do óleo de coco. Destacamos ainda que esta prática
deve estar associada a uma reeducação alimentar, já que a maior parte da
população brasileira possui erros alimentares e, consequentemente, deficiência
de micronutrientes, em especial, que caracterizam a fome oculta.
Fique
atento às próximas postagens, para conhecer mais sobre o óleo de coco.
Karina Nunes de Simas
Nutricionista
Mestre em Ciência dos Alimentos - UFSC
Pós graduada em Nutrição Clínica Funcional
Referências Bibliográficas
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução nº 482 de 23 de setembro de 1999. Dispõe
sobre Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de óleos e
gorduras vegetais. Diário
Oficial da União
nº196-E, Seção 1, página 82 a 87, de 13 de outubro de 1999.
DAYRIT,
C. Coconut Oil: Atherogenic of Not? (What therefore causes atherosclerosis?). Philippine Journal of Cardiology. v.31,
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DUBÉ, J.B.; BOFFA,
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MUELLER,
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SUNDRAM,
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