domingo, 19 de fevereiro de 2012

Alergia Alimentar - Cap.2


        Um bom diagnóstico é essencial para o manejo correto da Alergia Alimentar (AA) (FERREIRA; SEIDMAN, 2007). O seu valor depende da capacidade recordatória dos pacientes em descrever os sintomas e da habilidade e sensibilidade do médico em diferenciar as manifestações causadas por hipersensibilidade alimentar daquelas relacionadas a outras condições (SOLÉ et al., 2007).
Recomenda-se que na suspeita de AA, seja feita uma anamnese detalhada e um exame físico mais completo, considerando-se de grande utilidade o uso de registro alimentar onde o paciente é orientado a anotar todos os alimentos consumidos durante um período determinado e todos os seus sintomas. Esta avaliação feita de forma prospectiva independe da memória do paciente e está menos sujeita a erros do que os recordatórios (BRICKS, 1994).
A eliminação temporária de um antígeno suspeito é geralmente usada na prática clínica para auxiliar no diagnóstico de AA, porém uma resposta clínica favorável a uma dieta de eliminação normalmente não é confiável, podendo apenas ser uma coincidência. Portanto há a necessidade de testes confiáveis para diagnosticar a AA (FERREIRA; SEIDMAN, 2007).

Testes cutâneos, de provação oral e imunológicos são os mais utilizados na prática clínica.
  • TESTES CUTANEOS: são frequentemente utilizados para diagnosticar AA mediadas por IgE e usualmente utilizam extratos comercias em glicerina. A técnica frequentemente empregada é a de puntura (prick test), realizada na região do antebraço, com leitura após 20 minutos. Histórico de anafilaxia anterior, dermatites extensas e crianças menores de 2 anos são algumas das contra indicações para este teste (SILVA; MURA, 2007). Os testes de contato alérgico (patch test) com alimentos ainda carecem de padronização mais adequada (SOLÉ et al., 2007).
  • PROVOCAÇÃO ORAL: o teste de provocação oral duplo-cego-placebo-controlado mais conhecido como DCPC é considerado o método mais fidedigno para se estabelecer o diagnóstico de AA. Consiste na oferta de alimentos e/ou placebo em doses crescentes e intervalos regulares, sob a supervisão médica, com concomitante monitoramento de possíveis reações clínicas (SOLÉ et al., 2007).
  • TESTES IMUNOLÓGICOS: o mais utilizado é o radioalergossovente (RAST, radioallergosorbent test) (BRICKS, 1994; SILVA; MURA, 2007). Bastante utilizado em pediatria, avalia a presença de IgE especifica para determinado alérgeno. Seus resultados são classificados em classes (1, 2, 3 e 4), sendo considerado positivo os resultados 3 e 4. Resultados positivos indicam apenas a sensibilidade do indivíduo a determinado alimento e não necessariamente a presença da doença clínica. O diagnóstico de AA deve ser confirmado mediante a história clínica e do teste DCPC quando possível. Tanto o RAST como o prick test servem para a escolha do alimento a ser testado no DCPC (SILVA; MURA, 2007).
  Os exames relatados anteriormente conseguem detectar principalmente as reações imunológicas imediatas mediadas por IgE, porém, muitas reações imunológicas de alergia alimentar são mediadas por IgG, caracterizando uma hipersensibilidade tardia. Nestes casos, existem  exames, realizados principalmente nos Estados Unidos, denominados: Food Allergy Profile – combinação de IgE e IgG, onde são avaliadas as reações alérgicas por cada grupo alimentar, apresentando uma classificação de 0 (não alérgico) a 3 (reações alérgicas graves) (CARREIRO, 2010).
Três modalidades geralmente são mais utilizadas no manejo das AA: eliminar os alérgenos específicos, tratamentos medicamentosos e medidas preventivas (FERREIRA; SEIDMAN, 2007). Uma vez diagnosticada a AA, o tratamento consiste na exclusão do alimento responsável pelas reações alérgicas (FERREIRA; SEIDMAN, 2007; BATISTA et al., 2009).
Um estudo realizado por Santos e Barbosa (2010), investigou a relação entre o aleitamento materno exclusivo e a prevenção primária de reações alimentares, embora concluiram que não há significância estatística entre essa relação, todas as crianças que apresentaram reações a alimentos não foram amamentadas exclusivamente no tempo recomendado.Portanto estimular o aleitamento materno; evitar a exposição a antígenos durante a gravidez e a lactação e evitar a introdução de alimentos sólidos antes do recomendado são os principais fatores capazes de diminuir a incidência de manifestações alérgicas em população de alto risco (BRICKS, 1994).
      É bastante importante ressaltar que o diagnóstico de AA deve ser definido pelo Médico, sendo que o nutricionista deverá adequar a dieta do paciente, com a exclusão do alimento alergênico. Lembrando que as reações alérgicas diferem das reações de intolerância, como por exemplo a alergia ao leite e a intolerância à lactose, sendo a primeira uma reação imunológica causada por uma proteína e a segunda uma deficiência de enzimas lactase para a devida digestão e absorção dos monossacarídeos que compõem a lactose (galactose e glicose).
Como também é valido para outras doenças crônicas, o manejo da AA requer uma abordagem multidisciplinar. Consultar um nutricionista é essencial para que se obtenham as informações necessárias à escolha dos alimentos adequados para substituição (FERREIRA; SEIDMAN, 2007).

Christiane A. Rezitano
Nutricionista
Responsável Técnica da Gota de Leite, Santos-SP
Pós graduada em Nutrição Clínica


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTA, G. S. et al. Alergia alimentar e desmame precoce: uma visão do ponto de vista nutricional. Com. Ciências Saúde. v. 20, n. 4, p. 351-360, 2009.

BRICKS, L. F. Reações Adversas aos Alimentos na Infância: Intolerância e Alergia Alimentar – Atualização. Pediatria (São Paulo), v. 16, n. 4, p. 176-185, 1994.

CARREIRO, D.M. Terapia Nutricional nas alergias alimentares. Apostila Pós graduação em Nutrição Clínica Funcional. VP Divisão de Ensino e Pesquisa. 2010, 51p.

FERREIRA C. T.; SEIDMAN E. Alergia alimentar: atualização prática do ponto de vista gastroenterológico. Jornal Pediatr (Rio J). v. 83, n. 1, p. 7-20, 2007.

SANTOS, M. T. G., BARBOSA, C. P. Relação entre aleitamento materno exclusivo e a prevenção primária a reações alimentares adversas em crianças.  Revista Saúde e Pesquisa, v. 3, n. 2, p. 193-198, 2010.

SILVA, S.M.C.S.; MURA, J.D.P. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterápica. 1ª Edição. São Paulo: Ed Roca, 2007.

SOLÉ, D.; SILVA, L. R.; FILHO, N. A. R.; SARNI, R. O. S. Consenso Brasileiro de Alergia Alimentar: 2007. Rev. bras. alerg. Imunopatol. v. 31, n. 2, 2008.






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