O
estilo de vida atual, associado a mudanças de hábitos alimentares expõem o
indivíduo a uma série de fatores de risco para as doenças e agravos não
transmissíveis e a fome oculta. Esta é relacionada a deficiência de um ou mais
micronutrientes na alimentação diária, consequência de dietas desequilibradas,
sedentarismo, excesso de alimentação industrializada, dentre outros fatores
sociais (LIMA et al., 2012). O ato de alimentar é uma das atividades mais
importantes do ser humano, seja por razões biológicas ou pelas razões
sócio-culturais que envolvem o comer, por isso, a escolha do sistema para
preparo dos alimentos é fundamental para sua saúde (BARROS et al., 2011).
A
técnica dietética é a sistematização e o estudo dos procedimentos para tornar
possível a utilização dos alimentos visando à preservação do valor nutritivo e
à obtenção dos caracteres sensoriais desejados da preparação (PHILIPPI, 2003).
Existem alguns objetivos que devem ser alcançados no planejamento de cardápio,
seja individualmente ou para coletividade. São eles: dietético, digestivo,
nutritivo, sensorial, higiênico, operacional e econômico (PHILIPPI, 2003). Para
que os quatro primeiros objetivos sejam alcançados existe uma correlação direta
com a escolha adequada da técnica dietética para pré-preparar e preparar os
alimentos e estas escolhas devem minimizar as perdas nutricionais deixando os
alimentos mais facilmente digeríveis e comestíveis sem descaracterizar seus
atributos sensoriais. Existem dois tipos de energias que são aplicadas aos alimentos
nestas etapas de pré-preparo e preparo e em algumas delas existe
comprometimento na preservação do valor nutricional (ARAÚJO et al., 2007).
Energia
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Procedimento
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Valor nutricional
|
Energia mecânica:
Operação
de divisão e separação
|
Picagem,
ralação, coação, moagem, filtração, peneiração, centrifugar e descascar
|
Sempre
que possível utilizar o resíduo e as cascas para não desperdiçar as fibras.
|
Energia mecânica:
Operação
de união
|
Sovamento,
batedura, mistura
|
Não
há comprometimento do valor nutricional.
|
Energia térmica: Calor úmido
|
Água,
pressão ou vapor: ebulição/fervura, banho-maria, fogo lento
|
Perdas
nutricionais mais significativas.
|
Energia térmica: Calor seco
|
Ar
livre (assado, espeto, grelha), ar confinado (forno, cabines) e corpos
graxos: frituras, salteados
|
Não
há comprometimento do valor nutricional.
|
Energia térmica: Calor direto
|
Chapa
|
Não
há comprometimento do valor nutricional.
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Energia térmica: Calor misto
|
Associação
de calor seco e calor úmido (forno combinado)
|
Quando
bem monitorado não há comprometimento do valor nutricional.
|
Energia térmica: Frio
|
Congelamento,
branqueamento
|
Quando
bem monitorado não há comprometimento do valor nutricional.
|
Adaptado
pela autora.
Fontes:
ARAÚJO et al.(2007); PHILIPPI (2003); RAMALHO et al.(2012)
Não
adianta o planejamento ser bem feito, as compras e a qualidade dos alimentos
estarem de acordo com os procedimentos legais se no preparo dos alimentos estes
objetivos não forem contemplados, principalmente as características sensoriais.
Ressalta-se que os seres humanos são muito mais emotivos e sempre iniciam suas
refeições sensorialmente com o olfato e com a visão, e aí sim, se nestes
quesitos a refeição for aprovada, levam a mesma até a boca para apreciação de
seu paladar.
A
energia térmica do tipo calor úmido empregada na cocção é sem dúvida a que mais
induz a perdas nutricionais de vitaminas e minerais por dissolução
principalmente vitaminas hidrossolúveis. Para melhor utilização, recomenda-se sempre
aproveitar a água para outras preparações: arroz, caldos, sopas, etc. Este tipo
de calor também abranda as fibras. A recomendação é que o calor úmido seja
conduzido com reduzida quantidade de água e pouco tempo de cocção, com os
alimentos inteiros, a fim de evitar perdas excessivas de vitaminas
hidrossolúveis.
O
uso do vapor é recomendado, pois as perdas por dissolução são mínimas e ainda
há o realce das características sensoriais, não sendo indicada a mistura de alimentos
com texturas distintas em função dos tempos de cocção. Na cocção lenta
utiliza-se o calor úmido. Pode ser aplicada a alimentos cujas fibras são mais
duras e há necessidade de penetração de água para amolecer e quebrar a sua
consistência. Neste tipo de cocção podem ser utilizadas ervas e temperos, que
transferem o sabor ao líquido do cozimento, adiantando o seu preparo e tempero
adequado (ARAÚJO et al., 2007).
Quando
utilizados corpos graxos (óleos, gorduras) temos diferentes tipos de ponto
humeo (ponto de decomposição da gordura, formação de fumaça e odor
característico) e com a formação da acroleína temos possíveis irritações de
mucosa do TGI, hepatotoxicidade e estímulo à formação de radicais livres. Pode ser
aplicada a alimentos cujas fibras são moles e a penetração de calor é mais
fácil, só que monitorando para não atingir o ponto humeo (ARAÚJO et al, 2007).
Cuidados
devem ser tomados com os óleos e gorduras a serem utilizados no processo de
fritura ou salteamento, uma vez que os ácidos graxos também podem sofrer
decomposição em função da influência do calor, umidade, presença de luz, que
propiciam maior formação de radicais livres e podem afetar as características
sensoriais do óleo, principalmente o sabor e a cor.
As
perdas nutricionais estão mais concentradas na energia térmica do tipo calor
úmido e os principais nutrientes desperdiçados são as vitaminas hidrossolúveis
(Complexo B e C). Nesta perda devemos analisar se o alimento, que está sendo
preparado, é a fonte do nutriente perdido na refeição, pois assim será possível
avaliar este desperdício, planejar sua reposição e minimizar os possíveis
efeitos da fome oculta, priorizando a saúde dos indivíduos.
Gláucia Cristina Conzo
Nutricionista do SESI – Serviço Social da Indústria
Pós graduanda em Educação
Pós graduanda em Segurança Nutricional e Qualidade dos alimentos
Especialista em Saúde Coletiva pela ASBRAN
Aperfeiçoamento em Geriatria pela UNIFESP
Referências bibliográficas
ARAÚJO, W.M.C. et al. Alquimia dos alimentos. v. 2. Brasília,
DF: Editora SENAC-DF, 1ª edição, p.181-215, 2007.
BARROS, R.M. et al. Análise e
elaboração dos fatores de correção e cocção de alimentos. Anuário da produção de iniciação científica discente do Instituto de
Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional (IPADE). v. 13, n. 16,
maio de 2011.
LIMA, J.P. et al. Atividade e
biodisponibilidade dos carotenóides no organismo. Revista Ciências em Saúde. v. 2, n. 1, janeiro de 2012.
PHILIPPI, S.T. Nutrição e técnica dietética. Barueri, SP: Editora Manole, 1ª ed., p.
03-08, 2003.
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