domingo, 27 de maio de 2012

Óleo de coco: mais uma novidade na área da nutrição!


Sem dúvida, este vem sendo o assunto relacionado à nutrição mais discutido na atualidade e questionado pela população, além do aumento significativo na procura deste produto em lojas de produtos naturais e integrais. Em pesquisa a um site de busca, com a palavra óleo de coco, são apresentados 3.120.000 sites que discutem alguma informação a respeito, sendo muitos deles, empresas que comercializam o óleo de coco in natura ou em cápsulas. E aí vem a grande questão: será que o óleo de coco realmente é um alimento interessante para que seja adicionado na dieta da população brasileira? Esta é uma dúvida inclusive de muitos nutricionistas, que ainda não possuem uma opinião formada sobre este alimento. É isso que vamos discutir aqui nesta postagem, colocando as opiniões científicas em relação ao óleo de coco, para que você possa retirar suas próprias conclusões.
Para fins didáticos, esta postagem será dividida em três módulos, uma vez que são inúmeros os estudos que trazem alegações ao óleo de coco. Sendo assim, será discutida a influência do consumo de óleo de coco sobre doenças cardiovasculares, a perda de peso e ao diabetes. Nesta postagem será abordado o primeiro módulo.  

MÓDULO 1: ÓLEO DE COCO X DOENÇAS CARDIOVASCULARES

O óleo de coco ou gordura de coco é definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como o óleo comestível obtido do fruto de Cocos nucifera (coco) através de processos tecnológicos adequados, sendo classificado em óleo ou gordura de coco ou óleo ou gordura de coco bruto (BRASIL, 1999). A diferenciação dos dois produtos está nos processos utilizados para sua extração, sendo no primeiro necessários processos de extração e refino e no segundo somente processos de extração (BRASIL, 1999), que caracterizam um óleo de coco extra virgem.
A composição em ácidos graxos do óleo de coco de acordo com a Resolução nº 482 de 23 de setembro de 1999 (BRASIL, 1999) vem destacada a seguir.

Quadro 1 – Composição em ácidos graxos do óleo de coco (g/100g).
Ácido graxo
Nomenclatura
g/100g
C 6:0
capróico
0,4 – 0,6
C 8:0
caprílico
5,0 – 10,0
C 10:0
cáprico
4,5 – 8,0
C 12:0
láurico
43,0 - 51,0
C 14:0
mirístico
16,0 - 21,0
C 16:0
palmítico
7,5 – 10,0
C 18:0
esteárico
2,0 – 4,0
C 18:1
oléico
5,0 – 10,0
C 18:2
linoléico
1,0 – 2,5
C 18:3 - C 24:1
-
< 0,5
Fonte: BRASIL (1999)

De acordo com Feranil et al. (2011) estudos frequentes têm evidenciado modestos benefícios no consumo de óleo de coco no perfil lipídico (SUNDRAM; HAYES; SIRU, 1994). Tal revelação possui influência da composição em ácidos graxos do óleo de coco, uma vez que este possui principalmente ácidos graxos de cadeia média, que são rapidamente metabolizados pelo fígado em energia, não participando da biosíntese e transporte do colesterol (DAYRIT, 2003). Os principais ácidos graxos que compõem o óleo de coco são ácidos graxos láurico, caprílico, cáprico, mirístico e palmítico.

Por conta desta composição e pela pequena influência sobre o colesterol total e LDL-c, o óleo de coco surge como uma alternativa às gorduras vegetais hidrogenadas, que evidentemente são prejudiciais à saúde conforme inúmeras constatações científicas.

Lemiex et al. (2011) compararam os efeitos de diferentes óleos (óleo de coco, azeite de oliva e óleo de peixe), ricos em ácidos graxos saturados, monoinsaturados e polinsaturados, respectivamente, sobre as concentrações de lipídeos peroxidados e proteínas oxidadas em mitocôndria no coração de ratos. Os animais foram alimentados com tais dietas por 16 semanas e os resultados demonstraram que o óleo de coco apresentou as menores concentrações de proteínas oxidadas e lipídeos peroxidados, ao passo que o óleo de peixe levou ao maior estresse oxidativo na mitocôndria cardíaca. O LDL colesterol e colesterol total diminuíram no plasma de ratos alimentados com óleo de peixe, quando comparados ao azeite de oliva e óleo de coco.

Um estudo desenvolvido por Mueller et al. (2003) com mulheres estudantes da Universidade de Akershus, propuseram a avaliação de dietas controladas com diferentes níveis e qualidade de lipídeos e sua influência sobre os níveis sanguíneos de Lipoproteína a (LPa), fator VII (atividade coagulante) e fibrinogênio. Participaram do estudo 25 voluntárias, que foram divididas em três grupos:

- Dieta HSAFA: 38 % de lipídeos, recebendo margarina rica em ácidos graxos saturados, contendo 80 % de óleo de coco, 10% de óleo de soja e 10 % de óleo de linhaça.
- Dieta LSAFA: com baixo teor de lipídeos (19%), recebendo a margarina rica em ácidos graxos saturados apresentada na dieta HSAFA.
- Dieta HUFA: 39 % de lipídeos, recebendo margarina com alto teor de ácidos graxos insaturados: mono e polinsaturados.

Como resultados, os autores identificaram que as diferentes dietas não influenciaram nas concentrações de fibrinogênio, assim como nos níveis de fator VII, entretanto, os indivíduos que consumiram a dieta com maior teor de gordura saturada (HSAFA), baseada no óleo de coco, apresentaram menores concentrações de LP(a). Recentes estudos confirmam que elevadas concentrações de LP(a) podem ser caracterizadas como um fator de risco moderado, mas consistente, para doenças cardiovasculares, apesar de seu mecanismo ainda não estar bem definido pela comunidade científica (DUBÉ et al., 2012).

Segundo Voon et al. (2011) sabe-se que o tipo de gordura modula o perfil lipídico plasmático, mas seu efeito sobre os marcadores inflamatórios e homocisteína são pouco claros. Sendo assim, desenvolveram um estudo com 45 indivíduos saudáveis da Malásia, que passaram por um período experimental com uma sequência de três dietas por cinco semanas cada. As dietas possuíam diferentes tipos de óleos: primeira dieta com óleo de palma rico em ácido graxo palmítico (16:0), dieta rica em ácido graxo láurico e mirístico (12:0 + 14:0) presente no óleo de coco e dieta rica em ácido graxo oléico representado pelo azeite de oliva extra virgem. Os óleos foram inseridos nas dietas testes atendendo 30% das necessidades energéticas.
Como resultados não foram constatadas diferenças significativas no efeito das três dietas com os referidos óleos sobre os marcadores inflamatórios (TNF- α, IL-1β, IL-6, IL-8, PCR ultra sensível e interferon-γ), assim como para a homocisteína total. As dietas com óleo de palma e azeite de oliva tiveram efeitos não hipercolesterolêmicos. Os níveis de colesterol sanguíneos pós prandial foram significativamente menores nas dietas com azeite de oliva quando comparados à dieta com óleo de coco. A dieta com óleo de coco apresentou os menores níveis de lipoproteína a (LP(a)), discutida anteriormente.

Apesar do crescente número de pesquisas científicas a respeito do óleo de coco, a maioria dos trabalhos é desenvolvida ainda com uma amostra (população em estudo) reduzida, sendo por isso questionada por muitos estudiosos sobre sua eficácia. De fato, vários estudos apresentaram a pequena ou não influência do consumo de óleo de coco sobre os níveis de colesterol sanguíneo, principalmente por sua composição em ácidos graxos e metabolização. Diferentemente dos ácidos graxos de cadeia longa, os ácidos graxos de cadeia média possuem metabolização mais rápida pelo fígado, não havendo seu acúmulo como gordura corporal, uma vez que estes são metabolizados para produção de energia. Ressaltamos, entretanto, que o consumo deste produto deve ser orientado por nutricionista, profissional este responsável pela indicação da quantidade ideal para cada indivíduo e pela orientação sobre a qualidade necessária do óleo de coco. Destacamos ainda que esta prática deve estar associada a uma reeducação alimentar, já que a maior parte da população brasileira possui erros alimentares e, consequentemente, deficiência de micronutrientes, em especial, que caracterizam a fome oculta.  

Fique atento às próximas postagens, para conhecer mais sobre o óleo de coco.

Karina Nunes de Simas
Nutricionista
Mestre em Ciência   dos Alimentos - UFSC
Pós graduada em Nutrição Clínica Funcional

Referências Bibliográficas

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução nº 482 de 23 de setembro de 1999. Dispõe sobre Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de óleos e gorduras vegetais.  Diário Oficial da União nº196-E, Seção 1, página 82 a 87, de 13 de outubro de 1999.

DAYRIT, C. Coconut Oil: Atherogenic of Not? (What therefore causes atherosclerosis?). Philippine Journal of Cardiology. v.31, n.3, p.97-104, 2003.

DUBÉ, J.B.; BOFFA, M.B.; HEGELE, R.A.; KOSCHINSKY, M.L. Lipoprotein(a): more interesting than ever after 50 years. Curr Opin Lipidol. v.23, n.2, p. 133-140, 2012.

FERANIL, A.B.; DUAZO, P.L.; KUZAWA, C.W.; ADAIR, L.S. Coconut oil is associated with a beneficial lipid profile in pre-menopausal women in the Philippines. Asia Pac. J Clin Nutr. v.20, n.2, p.190-195, 2011.

LEMIEUX, H.; BULTEAU, A.L.; FRIGUET, B.; TARDIF, J.C.; BLIER, P.U. Dietary fatty acids and oxidative stress in the heart mitochondria. Mitochondrion. v.11, n.1, p.97-103, 2011.

MUELLER, H.; LINDMAN, A.; BLOMFLEDT, A.; SDELJEFLOT, I.; PEDERSEN, J. A Diet rich in coconut oil reduces diurnal postprandial variations in circulating tissue plasminogen activator antigen and fasting lipoprotein (a) compared to a diet rich in unsaturated fat in women. The Journal of Nutrition. 2003. p. 3422-3427.

SUNDRAM, K.; HAYES, K.C.; SIRU, O.J. Dietary palmitic acid results in lower serum cholesterol than does a lauric-myristic acid combination in normolipemic humans. American Society for Clinical Nutrition. v.59, p.841-846, 1994.

VOON, P.T.; WAI NG, T.K.; LEE, V.K.M.; NESARETNAM, K. Diets high in palmitic acid (16:0), lauric and myristic acids (12:0 + 14:0), or oleic acid (18:1) do not alter postprandial or fasting plasma homocysteine and inflammatory markers in healthy Malaysian adults. Am J Clin Nutr1451-1457, 2011.

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