terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A INFLUÊNCIA DE FATORES EMOCIONAIS NA OBESIDADE

Vários fatores contribuem para a etiologia da obesidade. Fatores genéticos, culturais, conômicos, emocionais e comportamentais atuam em diferentes combinações nos indivíduos obesos. Assim, múltiplas etiologias, correlatos comportamentais, efeitos sicossociais e conseqüências médicas, tornam a obesidade especialmente complexa (LUIZ et al., 2005).

A obesidade alcança índices preocupantes e sua ocorrência na população brasileira tem adquirido grande significância na área da saúde, principalmente devido ao impacto que causa na vida dos indivíduos, trazendo conseqüências físicas, sociais, econômicas e psicológicas.
 
Alguns estudos apontam a obesidade como o problema nutricional mais frequente nos Estados Unidos, chegando a afetar um terço da população geral e 15 a 20 % das crianças. Esta doença pode ter início em qualquer época da vida, mas seu aparecimento é mais comum especialmente no primeiro ano de vida, entre cinco e seis anos de idade e na adolescência, mas deve-se considerar que em qualquer fase da vida a obesidade exige uma atenção especial (DAMIANI et al., 2000).
 
O excesso de peso aumenta o risco para a saúde; seja por razões biológicas, psicológicas ou comportamentais. Alguns indivíduos parecem destinados a enfrentar uma batalha para emagrecer. Este processo de luta pode produzir excessiva preocupação com a alimentação, peso, autocondenação e depressão, bem como repetidos ciclos de perda e recuperação de peso (BROWNELL; O’NEIL, 1999).
 
Segundo Volich (2000), a etiologia da obesidade está relacionada à psicodinâmica dos conflitos somatizados devido às reações adaptativas e defensivas que atingem os mecanismos de defesa do ego, ou seja, fatores psicossociais e emocionais enfraquecem o funcionamento imunológico, bem como o metabolismo do organismo. A primeira vista o indivíduo obeso pode parecer auto-suficiente, cuja gordura é usada como manobra para disfarçar seus sentimentos ansiogênicos.
 
Em outras palavras, a fuga por meio da comida é uma tentativa de atenuar as angústias e as frustrações, que assume a função de preencher seu vazio afetivo e de trazer alívio para suas tensões e dificuldades, das quais o obeso não consegue resolver e, assim, conquistar o equilíbrio psíquico.
 
Fisberg (1995) considera que, entre as alterações do nosso corpo, a obesidade é a mais complexa e de difícil entendimento, havendo a necessidade de uma abordagem multidisciplinar do problema. Assim, os aspectos psicológicos também devem ser levados em conta, visto que os casos de obesidade causados por patologias endócrinas ou genéticas bem definidas constituem um percentual muito pequeno (ESCRIVÃO; LOPES, 1995).
 
Em um estudo no ambulatório de Obesidade Infantil da Universidade Federal de São Paulo, de 134 crianças atendidas, verificou que 76,8% apresentavam razões emocionais importantes, associadas ao surgimento e à evolução da obesidade. Assim, estudos que busquem entender as características psicológicas ligadas à obesidade são muito importantes (ANDRADE, 1995).
 
Sentimentos de tristeza, irritabilidade e agressividade, dependendo da intensidade e da freqüência, podem ser indícios de quadros depressivos. As súbitas mudanças de comportamentos, não justificadas por fatores estressantes, são de extrema importância para justificar um diagnóstico de transtornos depressivos. Tais sintomas podem refletir no comportamento alimentar e social (FU I et al., 2000).
 
Alguns estudos mostraram que a obesidade aumenta o risco de desenvolvimento de sintomas depressivos, outros indicaram que a obesidade diminui o risco para depressão e ainda outros apontaram que a obesidade não tem influência no risco para depressão. Nota-se a necessidade e a importância de estudos com a população brasileira que verifiquem a presença de sintomas depressivos entre obesos e da elaboração de instrumentos específicos para a cultura brasileira, que avaliem adequadamente tais sintomas.
 
Analisando a literatura, percebe-se que é encontrada uma relação entre obesidade e aspectos psicológicos, tais como depressão, ansiedade e déficits de competência social. Para tanto, surge a necessidade no desenvolvimento de mais estudos nesta área, com o objetivo de promover intervenções eficazes, uma vez que a obesidade tem crescido rapidamente,  e como conseqüência surgem prejuízos à saúde física e emocional.
 
Ressalta-se a importância da alimentação saudável na redução de peso em indivíduos com sobrepeso e obesidade, bem como para inserção de nutrientes essenciais no funcionamento cerebral. A modificação dietética poderá contribuir para a prevenção ou tratamento dos episódios de depressão e outros distúrbios psicológicos e emocionais.

Silvia Marques Lima
Nutricionista do Lar das Moças Cegas e da Casa da Esperança


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CATANEO, Caroline et al. Obesidade e Aspectos Psicológicos: maturidade emocional, auto-conceito, controle e ansiedade. Psicologia: reflexão e crítica, 2005, 18(1), PP. 39-46. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
 

LUIZ, Andreia M.A.G. et al. Depressão, Ansiedade e Competência Social em crianças obesas. Estud. Psicol. (Natal), vol.10, nº1 Jan/Abr. 2005.
 
DAMIANI, D. et al. Obesidade na Infância: um grande desafio. Pediatria Moderna, 36(8), 489-528. Ano 2000.
 
BROWNELL, K. D.; O’NEIL, P.M. Obesidade. Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos (PP. 355-403). Porto Alegre: Artmed. Ano 1999.
 
VOLICH, R.M. Psicossomática. 2ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
 
FISBERG, M. (1995). Obesidade na Infância e Adolescência (PP. 9-13). São Paulo: Fundação BYK.
 
ESCRIVÃO, M.A.M.S.; LOPES, F.A. (1995). Prognóstico da Obesidade na Infância e na Adolescência (PP. 146-148). São Paulo: Fundação BYK.
 
ANDRADE, T.M. (1995). Estudo Psicológico de crianças e adolescentes obesos (PP. 100-105). São Paulo.
 
FU I.L.; CURATOLO, E.; FRIEDRICH, S. (2000). Transtornos Afetivos. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22, 24-27.

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