Autores
Emygdio Davino Monteiro – cirurgião dentista
Gláucia Cristina Conzo - nutricionista
Maurício Pereira Gouvinhas – biólogo
A mastigação exerce
papel fundamental no processo de digestão dos nutrientes e consequentemente de
sua absorção, já que aumenta a superfície de contato dos alimentos com as
enzimas digestórias, por isso, podemos afirmar que quando se fala em medicina
preventiva, a nutrição e odontologia andam de “mãos dadas” uma vez que a
nutrição possui papel importante para prevenção de doenças como cáries,
erosões, defeitos no crescimento e desenvolvimento ósseo e doenças na mucosa
oral. A saúde oral envolve a eficiência no processo de mastigação, que é a
primeira fase do processo digestório e sua função é a digestão mecânica, ou
seja, a fragmentação do alimento, permitindo a mistura do bolo alimentar com a
saliva. Esta irá exercer sua função de lubrificação e digestão química (pela
amilase salivar), facilitando a deglutição (MOYNIHAN, 2005).
É um ato fisiológico
e complexo, que envolve as ações de morder e triturar os alimentos e exige
completo controle das musculaturas mastigatória, facial e lingual.
A quantidade de vezes
que o alimento deverá ser mastigado depende de sua textura, ou seja, um alimento
com textura mais leve não precisa ser mastigado por 30 vezes como no caso de um
tubérculo cozido.
Os carboidratos
refinados são considerados hoje extremamente maléficos para a saúde oral,
acidificando o meio bucal, com consequente desmineralização dentária,
propiciando o desenvolvimento da bactéria streptococcus
mutans com aparecimento de cáries, que se não tratadas adequadamente levam à
perda dentária e ou mastigação inadequada, ocasionando problemas na secreção de
enzimas digestórias e trituramento dos alimentos.
Quadro 1 - Problemas
decorrentes de uma mastigação inadequada
Refluxo
|
Alimentos mal triturados são mais difíceis de
serem digeridos, o que facilita o surgimento e/ou agravamento do refluxo.
|
Má digestão
|
Comprometimento na produção e secreção de enzimas
digestórias pela rapidez na mastigação.
|
Deficiência na absorção de nutrientes
|
Quando os alimentos não são mastigados adequadamente, não sofrem a degradação
necessária para que os nutrientes estejam aptos a serem absorvidos, ou seja, apesar
de consumo de alimentos de forma equilibrada e saudável, o indivíduo poderá
apresentar deficiências nutricionais, como deficiência de ferro (anemia),
cálcio, dentre outros.
|
Saciedade comprometida
|
Comendo rápido e sem mastigar adequadamente também
não há como identificar se há satisfação ou se há compulsão. Isto porque o
organismo demora cerca de 20 minutos para entender o que acontece com a
alimentação.
|
Complicações intestinais
|
As proteínas e as gorduras terminam a digestão
somente no duodeno. Alimentos mal mastigados contribuem para a formação de
flatulências, constipação e até disbiose.
|
Inflamações
|
Há
liberação de histamina que leva a processos inflamatórios e outras
consequências.
|
A alimentação e a nutrição desempenham um papel
fundamental na saúde oral. O alimento relaciona-se com os dentes de modo
tópico, pelo seu contato, podendo influenciar a formação e o metabolismo de
placa bacteriana de acordo com a sua composição química e características
físicas (CRISPIM et al., 2010).
Alguns sinais orais podem ser indicativos de
doenças, tais como: sensação de boca queimada, sensibilidade, dor ao toque,
xerostomia e diminuição do paladar. Deficiências de ferro e vitamina B 12 podem,
por exemplo, provocar sensibilidade na língua. A estomatodinia (sensação de
ardência e queimação por toda a boca sem causa aparente) encontrada na cavidade
oral pode ser um sintoma proeminente e precoce da pelagra, doença celíaca, da
desnutrição kwashiokor e anemia macrocítica. A xerostomia pode estar associada
ao diabetes mellitus e déficit de
vitamina A (ETISIOBI, 2006).
Quadro 2- Relação dos nutrientes fundamentais à
saúde oral.
Vitamina A
|
Fundamental
para as atividades dos osteoblastos e osteoclastos e para reabilitação óssea.
|
Vitamina C
|
Interfere
diretamente na síntese de colágeno, ajudando na cicatrização e em gengivas
hemorrágicas.
|
Vitamina K
|
Ajuda
na absorção de Cálcio pelo osso e na coagulação sanguínea.
|
Cálcio, fósforo e vitamina D
|
Fundamental
na remodelação óssea.
|
Magnésio
|
Sinérgica
à vitamina C e ajuda no desenvolvimento ósseo.
|
Flúor
|
Diminui
a susceptibilidade dos dentes às cáries, fortalecendo a estrutura dental.
|
Vitaminas do complexo B
|
Suas
deficiências levam à estomatite, queilite angular e outras doenças na língua.
|
Proteínas
|
A falta
de aminoácidos leva a problemas na síntese de colágeno.
|
Ácido fólico
|
Necessário
para irrigação sanguínea saudável.
|
Ferro
|
Produz
eritrócitos promovendo resistência às doenças e melhora à saúde dos dentes, ossos
e mucosa bucal.
|
Cobre
|
Ajuda
na consolidação dos ossos.
|
Zinco
|
Sinérgica
à vitamina C, regulando o processo inflamatório e a cicatrização de feridas.
|
Adaptado pelos autores. Fontes: COSTA (2011);
GIMENEZ et al. (2007)
Devemos ter sempre em mente que a assiduidade às
consultas com nutricionistas e dentistas vão sempre revelar o quanto devemos
nos preocupar com os alimentos e na forma de mastigá-los. A adequada absorção
dos nutrientes está intimamente ligada à forma como mastigamos e a saúde oral,
essenciais a este processo.
Referências Bibliográficas
BARBOSA, C. Mastigação: um poderoso aliado da
dietoterapia. São Paulo, Editora Ottoni, 1ª edição, 2009.
COSTA, J. P. Medicina
dentária e nutrição no âmbito do alto rendimento desportivo. Tese de mestrado
da Universidade Fernando Pessoa. Portugal, 2011.
ETISIOBI, N. et al. Dietary counseling in the prevention and control of oral diseases – a
review. African Journal of oral Health.
v. 2, n. 1 & 2, p. 26-36, 2006.
CRISPIM, A. et al. Saúde bucal e sua associação com o estado nutricional e a
condição socioeconômica em adolescentes. Revista
Gaúcha de Odontologia. Porto Alegre, v. 58, n. 1, p. 41-46, 2010.
GIMENEZ, C. M. M. et
al. Principais alterações sistêmicas relacionadas com a movimentação dentária
induzida. Revista Gaúcha de Odontologia. Porto Alegre, v. 55, n. 2, p. 191-195, 2007.
MOYNIHAN, P. The role of diet of nutrition in the etiology and
prevention of oral diseases. Bulletin of
the world health organization, EUA. September, v. 1, n. 83 (9), 2005.
0 comentários:
Postar um comentário