domingo, 17 de junho de 2012

Nutrição, Mastigação e Saúde Oral (Parte I)



Autores
Emygdio Davino Monteiro – cirurgião dentista
Gláucia Cristina Conzo - nutricionista
Maurício Pereira Gouvinhas – biólogo


A mastigação exerce papel fundamental no processo de digestão dos nutrientes e consequentemente de sua absorção, já que aumenta a superfície de contato dos alimentos com as enzimas digestórias, por isso, podemos afirmar que quando se fala em medicina preventiva, a nutrição e odontologia andam de “mãos dadas” uma vez que a nutrição possui papel importante para prevenção de doenças como cáries, erosões, defeitos no crescimento e desenvolvimento ósseo e doenças na mucosa oral. A saúde oral envolve a eficiência no processo de mastigação, que é a primeira fase do processo digestório e sua função é a digestão mecânica, ou seja, a fragmentação do alimento, permitindo a mistura do bolo alimentar com a saliva. Esta irá exercer sua função de lubrificação e digestão química (pela amilase salivar), facilitando a deglutição (MOYNIHAN, 2005).
É um ato fisiológico e complexo, que envolve as ações de morder e triturar os alimentos e exige completo controle das musculaturas mastigatória, facial e lingual.
A quantidade de vezes que o alimento deverá ser mastigado depende de sua textura, ou seja, um alimento com textura mais leve não precisa ser mastigado por 30 vezes como no caso de um tubérculo cozido.
Os carboidratos refinados são considerados hoje extremamente maléficos para a saúde oral, acidificando o meio bucal, com consequente desmineralização dentária, propiciando o desenvolvimento da bactéria streptococcus mutans com aparecimento de cáries, que se não tratadas adequadamente levam à perda dentária e ou mastigação inadequada, ocasionando problemas na secreção de enzimas digestórias e trituramento dos alimentos.
Quadro 1 - Problemas decorrentes de uma mastigação inadequada
Refluxo
Alimentos mal triturados são mais difíceis de serem digeridos, o que facilita o surgimento e/ou agravamento do refluxo.
Má digestão
Comprometimento na produção e secreção de enzimas digestórias pela rapidez na mastigação.
Deficiência na absorção de nutrientes
Quando os alimentos não são mastigados  adequadamente, não sofrem a degradação necessária para que os nutrientes estejam aptos a serem absorvidos, ou seja, apesar de consumo de alimentos de forma equilibrada e saudável, o indivíduo poderá apresentar deficiências nutricionais, como deficiência de ferro (anemia), cálcio, dentre outros.
Saciedade comprometida
Comendo rápido e sem mastigar adequadamente também não há como identificar se há satisfação ou se há compulsão. Isto porque o organismo demora cerca de 20 minutos para entender o que acontece com a alimentação.
Complicações intestinais
As proteínas e as gorduras terminam a digestão somente no duodeno. Alimentos mal mastigados contribuem para a formação de flatulências, constipação e até disbiose.
Inflamações
Há liberação de histamina que leva a processos inflamatórios e outras consequências.
Adaptado pelos autores. Fontes: CRISPIM (2010); BARBOSA (2009)

A alimentação e a nutrição desempenham um papel fundamental na saúde oral. O alimento relaciona-se com os dentes de modo tópico, pelo seu contato, podendo influenciar a formação e o metabolismo de placa bacteriana de acordo com a sua composição química e características físicas (CRISPIM et al., 2010).
Alguns sinais orais podem ser indicativos de doenças, tais como: sensação de boca queimada, sensibilidade, dor ao toque, xerostomia e diminuição do paladar. Deficiências de ferro e vitamina B 12 podem, por exemplo, provocar sensibilidade na língua. A estomatodinia (sensação de ardência e queimação por toda a boca sem causa aparente) encontrada na cavidade oral pode ser um sintoma proeminente e precoce da pelagra, doença celíaca, da desnutrição kwashiokor e anemia macrocítica. A xerostomia pode estar associada ao diabetes mellitus e déficit de vitamina A (ETISIOBI, 2006).

Quadro 2- Relação dos nutrientes fundamentais à saúde oral.
Vitamina A
Fundamental para as atividades dos osteoblastos e osteoclastos e para reabilitação óssea.
Vitamina C
Interfere diretamente na síntese de colágeno, ajudando na cicatrização e em gengivas hemorrágicas.
Vitamina K
Ajuda na absorção de Cálcio pelo osso e na coagulação sanguínea.
Cálcio, fósforo e vitamina D
Fundamental na remodelação óssea.
Magnésio
Sinérgica à vitamina C e ajuda no desenvolvimento ósseo.
Flúor
Diminui a susceptibilidade dos dentes às cáries, fortalecendo a estrutura dental.
Vitaminas do complexo B
Suas deficiências levam à estomatite, queilite angular e outras doenças na língua.
Proteínas
A falta de aminoácidos leva a problemas na síntese de colágeno.
Ácido fólico
Necessário para irrigação sanguínea saudável.
Ferro
Produz eritrócitos promovendo resistência às doenças e melhora à saúde dos dentes, ossos e mucosa bucal.
Cobre
Ajuda na consolidação dos ossos.
Zinco
Sinérgica à vitamina C, regulando o processo inflamatório e a cicatrização de feridas.
Adaptado pelos autores. Fontes: COSTA (2011); GIMENEZ et al. (2007)

Devemos ter sempre em mente que a assiduidade às consultas com nutricionistas e dentistas vão sempre revelar o quanto devemos nos preocupar com os alimentos e na forma de mastigá-los. A adequada absorção dos nutrientes está intimamente ligada à forma como mastigamos e a saúde oral, essenciais a este processo.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, C. Mastigação: um poderoso aliado da dietoterapia. São Paulo, Editora Ottoni, 1ª edição, 2009.
COSTA, J. P. Medicina dentária e nutrição no âmbito do alto rendimento desportivo. Tese de mestrado da Universidade Fernando Pessoa. Portugal, 2011.
ETISIOBI, N. et al. Dietary counseling in the prevention and control of oral diseases – a review. African Journal of oral Health. v. 2, n. 1 & 2, p. 26-36, 2006.
CRISPIM, A. et al. Saúde bucal e sua associação com o estado nutricional e a condição socioeconômica em adolescentes. Revista Gaúcha de Odontologia. Porto Alegre, v. 58, n. 1, p. 41-46, 2010.
GIMENEZ, C. M. M. et al. Principais alterações sistêmicas relacionadas com a movimentação dentária induzida. Revista Gaúcha de Odontologia. Porto Alegre, v. 55, n. 2, p. 191-195, 2007.
MOYNIHAN, P. The role of diet of nutrition in the etiology and prevention of oral diseases. Bulletin of the world health organization, EUA. September, v. 1, n. 83 (9), 2005.


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